Fonte: Portal Catarina: Biblioteca Digital da Literatura Catarinense

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

 Cancioneiro, de Delminda Silveira


Edição de base:

Delminda Silveira de Sousa, Obra Completa. Org. de Lauro Junkes,

Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2009.

ÍNDICE

Decreto nº 372

Carta ao Exmo. Sr. Cel. Vidal Ramos, digníssimo Governador do Estado de Santa Catarina

À minha Pátria (No dia 7 de Setembro)

Primeira parte

I - 3 de Maio - Descobrimento do Brasil -1500

II - Tiradentes - 21 de abril 1782

III - 7 de Setembro - Independência do Brasil

Hino - À Pátria Brasileira

IV - 13 de Maio - A Confraternidade Brasileira -1888

V - 15 de Novembro - Proclamação da República Federativa Brasileira -1889

À Bandeira Nacional

Segunda parte

A castanha

O ninho de andorinhas

A bolota e a abóbora

A pomba e a formiga

Meu Brasil

Vocações

Meio-dia

A rosa e a violeta

A estrela e o pirilampo

Minha boneca

Manhosa

Eu sou catarinense

O sabiá

Minha mãe

O gaturamo

Pororoca

As flores

Exemplos de atividades

As abelhas e as borboletas

A esmola

O professor

A criança e a borboleta

As frutas

O café

Os feriados

O aniversário de mamãe

Meus dez anos

Ave-Maria

O meu papagaio

As quatro estações

         I – A primavera

         II – O estio

         III – O outono

         IV – O inverno

Canções

Menino bem educado

Férias!

Terceira parte

Panteão catarinense

Guerreiros

I - Anita Garibaldi

II - Fernando Machado

Poetas

I - Luiz Delfino

II - Cruz e Sousa

III - Marcelino Dutra

IV - Bernardino Varela

V - Juvêncio Costa 

VI - Antero dos Reis

Oradores sacros               

I - Arcipreste Paiva

II - Cônego Cunha

Estadistas

I - Conselheiro Mafra

II - Conselheiro Silveira de Souza

Jornalistas

I - Jerônimo Coelho

II - Duarte Schutel

Heróis navais

I - Álvaro de Carvalho

II - Tenente Silveira

Construtor naval

I - Trajano de Carvalho

Pintor

I - Victor Meirelles

Músico

I - João Coutinho

Exemplo de piedade

I - Irmão Joaquim

 

Decreto n° 372

O Coronel Vidal José de Oliveira Ramos, Governador do Estado de Santa Catarina;

Considerando que a escritora Catarinense Delminda Silveira de Sousa ofereceu ao Estado o seu trabalho "Cancioneiro", preparado para uso dos estabelecimentos de instrução, demonstrando assim o seu civismo e o seu amor pela causa do alevantamento moral d. Infância:

Considerando que esse trabalho, submetido ao juízo do Direto da Instrução Pública, do Diretor do Grupo Escolar "Lauro Müller" do lente de português da Escola Normal, foi julgado útil:

Resolve mandar adotá-lo na Escola Normal, nos Grupo Escolares, escolas complementares e escolas isoladas do Estado; determina que dele seja feita uma edição de 500 exemplares para distribuição àqueles estabelecimentos, correndo a despesa por Cont. do § 19 do art. 2° da Lei do orçamento vigente, em vista da autorização conferida ao Governo pelo n° III do art. 7° da mesma lei.

Palácio do Governo em Florianópolis, 6 de Junho de 1913.

Vidal José de Oliveira Ramos.

Antônio Maria Barrozo Pereira.

 

Carta

Ao Exmo. Sr. Cel. Vidal Ramos, digníssimo Governador do Estado de Sta. Catharina.

Exmo. Sr.

Respeitosamente saudando a V. Exa., é com a mais viva emoção que ofereço o meu pequeno trabalho, insignificante, quanto ao seu valor literário, mas, quiçá, de alguma utilidade quanto ao fim a que se destina.

É um modesto trabalho didático que aos meus jovens conterrâneos dedico, e que, levando gravadas em sua primeira página as belas palavras de V. Exa. sobre o ensino; além de ser uma sincera homenagem da minha admiração ao elevado espírito que as ditou, é o modesto concurso da minha boa vontade à grandiosa causa da instrução pública que tão particular atenção e minuciosos cuidados tem merecido de V. Exa..

Acompanhando, embora de parte, a grande evolução do ensino em o nosso Estado, vendo esse admirável desenvolvimento que ao patriótico amor e dedicação de V. Exa. devemos, eu, que amo também com toda a minha alma nossa bela terra natal, não poderia ficar indiferente, inativa ante a magnitude desse grandioso fato.

Assim é que ouso juntar aos nobres esforços de V. Exa. o meu fraco, porém espontâneo concurso.

Aceitai-o, pois, Exmo. Senhor, e desculpai minha ousadia, preenchendo com vossa magnanimidade o que ao meu trabalho falta de merecimentos.

E possa este pequeno livro, merecendo a simpatia e apoio de V. Exa. ser, de algum modo, proveitoso às crianças, a quem o destino.

Com grande respeito e consideração

subscrevo-me de V. Exa.

atenciosa admiradora e obscura patrícia agradecida.

Delminda Silveira de Souza.

Capital de Santa Catarina, ... de............. de 1913.

A escola é o laboratório onde se prepara o caráter e onde se inicia o desenvolvimento das aptidões individuais.

.............................................................................

"Quanto a mim, eu saberei cumprir o meu dever, trabalhando pela instrução com o amor e carinho que em mim despertam as causas com as quais se irmana o meu espírito".

Para isso não me faltará energia, e também, assim o espero, o concurso de todos os homens de boa vontade" (Palavras textuais do Exmo. Sr. Cel. Vidal Ramos, Governador de Sta. Catarina, por ocasião da inauguração oficial do grupo escolar "Lauro Müller", na Capital do Estado).

À Minha Pátria

(No dia 7 de Setembro)

Soberano Brasil! Pátria formosa!

Se nesta data festival, gloriosa,

Acorda a lira minha em teu louvor,

É que no coração leal e ardente

A mulher brasileira também sente

Vibrar da pátria o generoso amor!

Dos puros corações das valorosas

Mães e filhas, irmãs, noivas e esposas,

Voam esperanças mil ao teu regaço;

Depois... depois nas páginas da História,

Elas à luz fulguram de tua glória,

Como as estrelas pelo infindo espaço!

Pátria! — Venho trazer-te neste dia,

Da minha pobre lira na harmonia,

A homenagem de meu grande amor!

— Salve! — formosa Pátria brasileira,

— Estrela de Cabral, alvissareira,

Flor das Nações, — da Liberdade — Flor!

 

Primeira Parte

Poesias comemorativas das principais datas nacionais

I - 3 de Maio

(Descobrimento do Brasil) — 1500

Partem as naus, as proas altaneiras

Rasgando em flor d'espumas o Oceano;

Das velas enfunando o branco pano

Marinhas auras sopram mui fagueiras.

Súbito, as fundas águas traiçoeiras

Erguem o dorso; e num clamor insano,

Rugem as vagas ao furor tirano

Das infernais lufadas desordeiras.

Volta a bonança alfim: no ar suaves

Perfumes vagam; cruzam lindas aves;

Um verde tronco pelas ondas erra...

Todos, à proa, fitam o horizonte:

Lá, se divisa o cimo d'alto monte...

E a voz do gajeiro brada: — terra!

II - Tiradentes

21 de Abril (1782)

Que tristes ecos doridos

Fazem a Pátria chorar!

Goivos e louros unidos

Vejo-a em coroas enlaçar!

Ali — um túmulo erguido...

Um nome, — um nome esculpido

Em letras d' ouro, fulgura:

Tiradentes! — diz o vento

Beijando saudoso, lento,

Do cipreste a rama escura.

Tiradentes! — Quem foi esse,

Cujo nome traz saudade?

Cuja glória resplandece

Como o sol na imensidade!

— Foi um herói brasileiro,

E foi o mártir primeiro

Que à Liberdade esposou!

Foi uma Luz... uma ideia...

Mais que uma grande epopeia

Seu nome à Pátria legou!

Foi o sonhador augusto

D'uma sublime ventura;

D'um ideal nobre e justo,

Morreu, na fé santa e pura!

Morreu! — mas, vencendo a morte,

Desse ideal grande e forte

Um gérmen santo deixou:

E um dia, após, gloriosa,

Da Liberdade formosa

A verde planta brotou.

Cresceu... Cresceu opulenta,

Bela árvore florida

Que agora nos apresenta

Frutos mil de glória e vida!

E o nome do Tiradentes,

Entre brilhos resplendentes,

Da Pátria lembrado é

Nas áureas laudas da História,

Como uma brilhante glória,

Como um exemplo de fé!

Ante o herói da Liberdade,

Ante esse mártir bendito,

Curve-se a posteridade,

Subam cantos ao Infinito!

Inteiro o mundo o proclame,

E cada peito o aclame,

Em pátrios hinos ferventes,

Que nesta data grandiosa

Celebra a Pátria saudosa

A glória do Tiradentes!

III - 7 de Setembro

Independência do Brasil (1822)

Salve Pátria gentil, independente!

Salve — da Liberdade augusto dia!

Salve! — formosa aurora d'alegria,

Da brasília Nação, — glória fulgente!

O brasileiro peito, em nobre ardência,

No coração libérrimo vibrar,

Inda sente esse amor que fez pulsar

O peito dos heróis da independência!

Salve — Brasil ingente, glorioso!

— Pedestal d'esmeraldas, portentoso,

Sobre o qual se levanta a Liberdade! —

— Estrela das Nações ! — mais radiante

Hoje rebrilha o nome teu, ovante,

No coração da nova mocidade!

 

Hino

À Pátria Brasileira

(Canto. - Música do Hino Nacional).

Salve, ó Pátria abençoada,

Ó terra de Santa Cruz!

bis    Por teus filhos celebrada,

Da glória fulges à luz!

Salve, ó terra brasileira,

Solo próspero e fecundo!

bis    És a mais bela, a primeira,

Das terras do Novo Mundo!

Pela Pátria, tenros peitos

Forte amor podem sentir:

bis    Reconhecem teus direitos

Os cidadãos do porvir!

Defendamos a Bandeira

Que representa a Nação!

bis    Uma glória brasileira

Seja cada cidadão!

Salve, ó Pátria soberana.

Mãe dos valentes tupis!

bis    Salve, ó índia americana

Livre, orgulhosa e feliz!

Salve, ó Brasil glorioso,

Berço d'heróis, sublimado!

bis    Seja o teu nome famoso,

De luz e louros coroado!

IV - 13 de Maio

À confraternidade brasileira -1888.

(Monólogo)

— Que melodia é esta?...

Esplendorosa festa

Alguém realizará?...

Que ondas de perfumes!

Que luz! que vivos lumes...

Meu Deus! — o que será?!

Pergunto aos passarinhos

Que voam nos caminhos,

Pergunto às belas rosas,

E os passarinhos cantam,

E as flores se levantam

Mais lindas e cheirosas!

Às pombas mensageiras,

Que cruzam, prazenteiras,

O azul da imensidade,

Pergunto, — e as brancas penas,

Nos ares, tão serenas,

Escrevem: — Liberdade!

Agora compreendo!

Finou-se o monstro horrendo

Da vil Escravidão!

Na pátria de mil bravos,

Não pode haver escravos:

Há livres! — Há Nação!

E a voz dos passarinhos

Que voam nos caminhos,

Celebra, alvissareira,

A data venturosa,

Bendita, gloriosa,

Da Pátria brasileira.

Salve, ó dia imortal

Que a Pátria rememora,

Ao peito maternal

Todos cingindo agora!

Livres, — a mente e o braço

À Pátria, em forte laço

Sangrai num brado novo!

— Num viva à Liberdade,

Na confraternidade

Do brasileiro povo!

V - 15 de Novembro

Proclamação da República Federativa Brasileira - 1889.

(Hino, Música — Hino do Estado)

Saudemos da Pátria formosa e querida

O dia que o povo não pode esquecer!

A terra dos livres, de flores vestida,

Só coroa de louros na fronte quer ter!

Renasceu a Liberdade

Da Pátria no coração!

À luz da Fraternidade

Reviva culta Nação!

As almas unidas, os peitos vibrantes

No júbilo ardente dos cantos louçãos

Da Pátria brasília cantemos, ovantes,

As glórias sublimes que somos irmãos!

Viva o Quinze de Novembro,

Novo sol da Redenção!

Como o Sete de Setembro,

— Glória da livre Nação!

Mais pura e brilhante, a luz redentora

Fulgiu radiosa no vasto Brasil!

Mais belas promessas nós vemos agora

Na verde Bandeira da terra gentil!

Dessa aurora d'esperanças

Sigamos o progredir:

Do povo são as crianças

Os cidadãos do porvir!

Saudemos da Pátria formosa e querida

O dia que o povo não pode esquecer!

A terra dos livres, de flores vestida,

Só c'roa de louros na fronte quer ter!

Liberdade, Liberdade,

Da Pátria divina luz!

Viva à tua claridade,

A terra de Santa Cruz!

 

À Bandeira Nacional

Desdobra-te gentil! — amplia-te! — fulgura

D'esperanças enflora a Pátria brasileira,

— Pavilhão imortal! — Intrépida Bandeira

Que ao livre povo ensina a trilha da ventura!

Depois que o belo Sol da Liberdade pura

Beijou-te apaixonado, ó noiva alvissareira,

Erguendo senhoril a face prazenteira

De glorias um porvir apontas, mais segura.

Desdobra-te gazil, cercada d'esplendores!

Desvenda esse porvir de louros e de flores

À nova geração que te saúda crente.

E diz no teu fulgor, e di-lo ao mundo inteiro,

— No bravo coração de cada brasileiro,

Eu tenho um pedestal, um culto eternamente!

Segunda Parte

 

Fábulas, apólogos e poesias diversas para recitar

A castanha

Fábula de Arnault — Tradução.

De passeio num campo verdejante

Com o seu professor, um escolar

Dizia, preguiçoso, a bocejar:

— O estudo é cousa maçante!

Do que nos serve tanto trabalhar?...

Cala o reitor. Eis, no caminho,

O nosso estudantinho

Uma cápsula avista, bem fechada,

E de temíveis puas toda armada,

Ia estender a mão para apanhá-la,

Quando o sisudo mestre assim lhe fala:

— Meu pobre filho! — não lhe toques... não!

Porém... por que razão!!

— Pois não vês, mil espinhos inclementes

Que punirão teus dedos imprudentes?!

— Essa cápsula, senhor,

Um fruto encerra, um fruto original!

E pode-se tirá-lo sem labor,

Sem os dedos ferir?... Não penses tal!

— Mas p'ra tão belo achado aproveitar,

Vale a pena sofrer, e... trabalhar!

— Sim, filho, sim; e nisto aprende bem

Do estudo a vencer o dissabor

Pois, como essa castanha, ele contém,

— Um fruto de valor!

 

O ninho de andorinhas

Fábula de Viennet — Tradução

Possuidor dum ninho d'andorinhas

Um petiz amimado,

A liberdade quer, obstinado,

Dar às tenras implumes avezinhas.

— "Sede livres! — voai c'os livres de universo!" —

Disse, — e o ninho disperso

Nos ares foi. — Maravilhados,

Pelo primeiro adejo, os pobrezinhos

Ensaiam outro e outro; entanto, oh, desgraçados!

Ao terceiro naufragam, malogrados!

Na queda, um s'esmigalha; outro morre de fome;

O gato do vizinho um outro come,

De modo que a ninhada

Ficou aniquilada!

"Ao tempo, tempo demos" — é uma gran ciência,

Que, cedo, os homens devem aprender;

Quantas vezes, por uma impaciência

Cousas preciosas não se viu perder!

Uma palavra só, com eloquência,

Sobre o assunto tudo vai dizer:

— Aves, foram criadas p'ra voar;

Mas é preciso as penas esperar!

 

A bolota e a abóbora

Fábula de La Fontaine — Tradução.

O que Deus faz é bom; e para tal provar,

Sem ser preciso ir do universo ao fim,

Temos a abóbora vulgar.

Um rústico dizia assim:

— "Ora, tamanho fruto em ramo tão delgado!

Das cousas o Criador, em que meditaria,

Quando a esse baraço um fruto tal prendia?

Eu, por mim, tê-lo-ia pendurado

A um grande carvalho; o que, seria

O negócio mais belo e acertado:

Tal árvore, tal fruto, — eis o ditado.

Garo, que pena foi — se fosses do conselho

D'Aquele de quem fala o cura ao Evangelho,

Tudo fora melhor; ora, isto, por exemplo:

Bolota, que menor que um dedo é,

Por que nesse baraço não se vê?...

Deus se menosprezou! Quando contemplo

Esses frutos assim, mal colocados, oh! —

Parece-me que houve um quiproquó!"

E uma tal reflexão confunde o nosso homem;

— "Não se pode dormir se a mente tem trabalho;"

Disse Garo, e deixando ideias que o consomem,

Deitou-se, e adormeceu à sombra dum carvalho.

Uma bolota, então, sobre o nariz lhe cai;

Garo desperta, e a mão o rosto vai palpar;

Preso à barba inda encontra o fruto, porém, — ai;

O magoado nariz deu-lhe um novo pensar!

— "Sangue! — exclama, ai de mim! desgraçado,

Se d'árvore caísse um corpo mais pesado!

Uma abóbora... que azar!...

Deus não o quis... compreendo! — ele teve razão!"

E bendizendo o Criador, então,

Garo voltou ao lar.

 

A pomba e a formiga

Fábula de La Fontaine - Tradução

Dum regato na corrente,

Meiga pombinha bebia,

Ao tempo que ali caía

Uma formiga imprudente.

Ia, naquele oceano,

Afundar-se a desditosa,

Quando a pomba caridosa

Antevendo o fim tirano,

Um raminho, mui ligeira,

Lança à água traiçoeira;

A formiga logo o abraça,

E, daí, trepa à ribeira.

Eis que um farroupilhas passa:

Vê a ave, por desgraça,

E p'ra ceia a quer caçar;

Percebe a formiga a traça,

E morde-o no calcanhar;

O nosso lorpa tonteia,

Voltando presto a cabeça:

Voa a pombinha, depressa...

E com ela foi-se a ceia!

 

Meu Brasil

Meu Brasil! — terra formosa!

Deu-te o Céu a distinção!

Tens a forma grandiosa

Dum imenso coração!

Meu Brasil! — Pátria bondosa,

Jamais inspiras receio;

Como uma mãe carinhosa,

A todos abres teu seio!

Meu Brasil! — terra bendita,

No teu Céu de puro azul,

Com viva luz infinita,

Brilha o Cruzeiro do Sul!

Meu Brasil! — terra d'encantos,

"Onde canta o sabiá",

Os teus primores são tantos,

Que não sei cantá-los já!

Oh! minha terra querida,

Deu-te o Céu a distinção!

Tens a forma, tens a vida,

D'um imenso coração!

Vocações

(Diálogo entre três condiscípulos)

1° Hei de uma nau comandar:

    Desejo ser marinheiro,

    Para no mastro hastear

    O pavilhão brasileiro

2° Eu, se algum dia tiver

   Uma farda com galões,

   Minha bandeira há de ser

   O terror de outras nações!

3° Pois eu, simples cidadão,

   À Pátria, sem egoísmo,

   — Darei o meu coração

   Cheio de amor e civismo

 

Meio-dia

Do relógio ao mostrador,

Vi as horas: não me engano,

Que o algarismo romano

Eu já sei todo de cor.

Aponta já meio dia:

X e dois is; que gorjeio!

Já são horas do recreio...

Oh, que prazer! que alegria!

Deixemos a gravidade;

Voemos, bons amiguinhos,

Que um bando de passarinhos

Nós somos, em liberdade!

 

A rosa e a violeta

(Diálogo entre três condiscípulas)

1ª — Colegas! — vede esta rosa:

   É o primor dos primores!

   Merece bem, por formosa,

   Ser a rainha das flores!

2ª Eu prefiro esta singela,

   Pequenina violeta;

   Não há nenhuma mais bela;

   É esta a flor do Poeta!

1ª Não?! — a rosa é soberana!

   É orgulhosa princesa!

   É linda; — altiva sultana,

   É a imagem da beleza — !

2ª A violeta é mais pura...

   Toda poesia traduz;

   Tem modéstia, tem candura,

   Não maltrata, não seduz.

3ª Que o meu conselho se meta

   Na questão, é natural;

   Sobre a rosa e a violeta

   Vamos ouvir a moral:

  

  — A beleza dura um dia;

  Qualquer revés a desfaz;

  Orgulho, soberania,

  — São troféus da Morte audaz!

  Só a virtude é formosa,

  Modesta, pura, dileta:

  — formosura, — é a rosa.

  A virtude — a violeta!

 

A estrela e o pirilampo

(Diálogo entre três condiscípulos)

1° — Colegas, — já tendes visto,

À noite brilhar nos campos,

essas estrelas fugazes

A que chamam — pirilampos?

2° — Sim; são insetos que têm

Uma luz fosforescente;

Não os comparo às estrelas

Que brilham perenemente.

1° Ora! — estrelas estão longe!

Ninguém as pode tocar;

Os pirilampos são nossos,

Com eles vamos brincar!

4° Nada! — as estrelas são lindas!

São os luzeiros dos Céus;

O seu brilho mais divino,

Melhor nos falam de Deus!

3° — Amigos, o meu juízo

Também aqui vem a campo;

Ouvi o que penso e digo

Sobre a estrela e o pirilampo.

O lume fosforescente

Do pirilampo, eu figuro

— Brilho de pouco saber:

Ora claro, ora obscuro.

Ao passo que a luz da estrela,

No seu fulgor perenal,

Representa — pura e bela —

A luz do Gênio imortal!

 

Minha boneca

(A pequena aluna deve trazer uma boneca)

Minha boneca

Está dormindo,

Está sorrindo

Porque é feliz;

Sonha, decerto,

Com as lindas cousas

Maravilhosas

Do seu país.

Ela é francesa,

Loura e rosada;

Foi educada

Mesmo em Paris —

Por instruir-se

Veio ao Brasil,

Terra gentil,

Que ela bendiz!

Dizer que é feia,

Não há quem ouse;

Seu nome é Rose,

Nome de flor!

Tem belos olhos,

De azul celeste,

Ninguém se veste

Com mais primor!

O seu cabelo

Da cor do ouro,

Que o trigo louro

Tem mais encanto!

O seu toucado

Feito de renda

Guarda essa prenda

Do mau quebranto!

Mademoiselle

Está dormindo;

Está sorrindo,

Porque é feliz!

Sonha, decerto

Com as lindas cousas

Maravilhosas,

Do seu país.

 

Manhosa

Eu não estava doente...

Não tinha dor, não gemia...

Mas não estava contente,

Mas não sei o que sentia!

E tinha de ir à escola...

Oh! que sono! que calor!...

Vesti minha camisola,

E fui colher uma flor.

Mamãe chamou-me: — "São horas,"

São horas já da lição —;

Mas as flores sedutoras

Prendiam minha atenção!

"Só poderás receber

O presente de Natal,

Si o souberes merecer —"

Disse mamãe afinal.

Logo, logo a mãe querida

Fui ternamente abraçar,

Chorando de arrependida

Por lhe ter dado um pesar.

E de mamãe alcancei

Incontinente o perdão:

Fui para a escola, e tirei

O grau 10 — com distinção!

 

Eu sou catarinense

Eu sou catarinense;

O mar meu berço embala,

E sempre assim me fala:

"És forte: — luta e vence!"

E o mar canta um poema,

E a brisa, tão sutil,

Repete, como um lema:

— Brasil, Brasil, Brasil!

Eu sou catarinense,

Portanto — brasileiro:

Que ao meu Brasil pertence

O berço meu, fagueiro!

— E sou catarinense:

— Eu amo a minha terra

E o meu país inteiro,

Com esse ardor que encerra

O peito brasileiro!

 

O sabiá

Cantava ao morrer do dia,

Quando no vale pendia

O branco lírio gentil;

Quando no morno ambiente

Passava meiga, fremente

A brisa primaveril.

Cantava, e o canto subia,

Na sonorosa harmonia,

Além das matas em flor;

Subia, e, chegando aos Céus,

Ia morrer junto a Deus,

Como uma prece de amor!

E cada dia, a mesma hora,

Vinha aquela voz sonora

Despertar-me o coração;

E eu cantava com ela,

Na prece mais pura e bela,

A vesperal saudação.

Cantava, e o canto subia,

Na sonorosa harmonia,

Além das matas em flor;

Subia... e, chegando aos Céus,

Ia morrer junto a Deus,

Como uma prece de amor!

Depois, quando o sabiá

Calava, e, voando, já,

Na mata desparecia,

A minh'alma arrebatada

Cantava ainda, enlevada,

As notas d' — Ave-Maria!

 

Minha mãe

Minha mãezinha, no teu regaço

Quero dormir:

Quero a cadeia do teu abraço,

Forte, sentir!

Dos males todos, ó mãe querida,

Nada receio,

— Anjo da Guarda da minha vida,

Junto ao teu seio!

Quando tu rezas, as mãos unidas,

Olhos nos Céus,

És a mais bela das escolhidas

Santas de Deus!

Tu és imagem da Mãe bendita

Do Deus-Menino,

Aos Céus pedindo — graça infinita

Ao meu destino!

Quando, sorrindo, beijas-me a face,

Meiga, enlevada,

És como a rosa que abre vivace

À madrugada.

Eu tenho pena dos orfãozinhos,

Mãe terna e pura,

Que não conhecem esses carinhos,

Essa ternura...

Nunca teus olhos, de amargo pranto

Hei de eu molhar!

Que esse teu nome — querido e santo —

Sempre hei de honrar!

Bendita sejas, mãe carinhosa,

Sempre querida!

Anjo da guarda, luz preciosa

Da minha vida!

 

O gaturamo

Nas matas da minha terra.

Canta alegre o gaturamo,

Voando de ramo em ramo,

Pousando de serra em serra.

Gorjeia o canto mimoso,

Quando o sol nascendo vem;

Gorjeia à tarde também,

Mais terno, mais carinhoso.

Nas matas da minha terra,

Em cada manhã dourada,

Com a mesma doce toada,

Revoa de serra em serra.

Um pequeno sertanejo

Que não conhece a escola,

Arma-lhe um dia a gaiola,

Com traiçoeiro manejo.

E o gaturamo inocente,

Pousando nas finas varas,

Nessa prisão de taquaras

Vai cair incontinenti.

Depois, quando o sol fagueiro,

Desponta cheio de encanto,

Oh! como é tristonho o canto

Do pobre prisioneiro!

 

Pororoca

Eis a luta tremenda! — o poderoso rio,

Amazonas ingente, em face do Oceano,

Defende o passo seu com indomável brio,

Com força de gigante a bravejar insano!

Mas não cede o Titã, o grande rei dos mares,

Que altivo se levanta em vagalhões possantes,

E com fragor medonho, a rebramar nos ares,

Impávido arremete as águas ululantes!

Bramindo retrocede o fluvial colosso;

Invade-lhe o oceano o enorme, fundo leito;

qual jaguar feroz vencendo horrível fosso,

Derruba, arrasta o que lhe vem de encontro ao peito.

E rugem fúrias mil da luta no fragor

Que os ecos a tremer vão longe reboar;

Após, silêncio augusto: — o rio vencedor.

Subjuga, humilha alfim, o soberano mar!

 

As flores

(A aluna que recitar deve trazer um ramalhete)

Como são lindas as flores!

Não possui a Natureza,

Mais delicados primores,

Mais graças, maior beleza!

Com que doce simpatia

Elas nos dão seus encantos,

Brilhando em nossa alegria,

Chorando com nossos prantos!

São as meigas, lindas flores

Que o nosso berço entretecem,

Que exprimem risos e dores

Como si alma tivessem.

Ora, de galas vestidas,

Ora, de luto trajadas,

— São companheiras queridas,

— São amigas dedicadas.

E quando se acaba a lida,

Quando o sono eterno vem,

— Elas nos dão sua vida,

Conosco dormem também!

Exemplos de atividade

As abelhas e as borboletas

(Diálogo entre duas condiscípulas)

1ª aluna

— Colega, vou narrar-te a causa poderosa

Que de mim fez, num dia, aluna estudiosa.

Voltara a Primavera: os lírios, os jasmins,

E muitas flores mais, cobriam os jardins.

A linda trepadeira, em verde cortinado,

Formava deleitoso abrigo perfumado.

Vinha rompendo o sol; cantavam passarinhos,

E já pelos rosais se viam novos ninhos.

Eu despertara cedo, e no estudo cuidava...

Porém, que atroz preguiça então me dominava!...

Nessa disposição, os livros desprezei,

E o puro, livre ar, gostosa procurei.

Havia no jardim tanta frescura e encanto...

Essas flores gentis me cativavam tanto...

Entrei; chegam também, voando, mil abelhas,

O seio a procurar de flores mui vermelhas.

Notei-lhes, desde logo, a grande atividade,

A ordem, o labor, e essa fraternidade

Que tão firme entre nós, assim, quisera ver!

Oh! que melhor lição eu poderia ter

Para o trabalho amar e à escola dar valor?!

"Sim! — o livro é um jardim: cada letra uma flor,

Que da ciência o mel, em si, puro, contém.

Abelhas, — somos nós; — nós que vamos, também,

Doce mel extrair às letras reunidas,

— Às letras — geniais ideias florescidas!"

Isto pensei, então, e esse pensamento

Firmou-se na minh'alma, e deu-me um novo alento;

Depois dessa lição tão bela e proveitosa,

Chamaram-me na escola — aluna estudiosa!

2ª Aluna

—Tudo isso é muito belo! — é mesmo — singular!

Porém, escuta agora o que te vou contar:

Também eu despertara, um dia, preguiçosa;

Era linda manhã, — uma manhã radiosa!

O outono havia já amanhecido o fruto;

Era belo de ver-se o salutar produto,

Os ramos do pomar vergando para o chão!

No verde laranjal, o ouro em profusão!

Que doces cambucás, que pêssegos macios!

Contraste encantador — maracujás sombrios

A púrpura das romãs, ali, desafiando!

O passaredo vinha, alegre chirleando,

Com trilhos de ventura, em coro fraternal,

Haurir em taças d'oiro o néctar divinal!

Eu, tudo observava, atenta, curiosa,

À sombra d'amoreira, esplêndida, frondosa.

Nisto, um bando notei de lindas borboletas

No ar a voltejar sutis, irrequietas;

E, por entre o verdor dos ramos, enleados

Uns novelinhos vi, à luz do sol, dourados.

Um deles desprendi com máximo cuidado:

Era um louro casulo, um mimo delicado!

Ora, minha lição da véspera versara

Sobre — a origem da seda: — a seda bela e cara,

Que d'Europa nos vem, — de tanta utilidade!

Eu, comigo pensei: — é belo, na verdade,

O estudo universal da grande Natureza!

— Que fontes de prazer, de glórias, de riqueza

Aos homens oferece em cada maravilha!

Oh! a ciência é luz que vem dos Céus, e brilha

No pensamento nosso, em nossa inteligência!

— Se ao pequenino inseto, a sábia Providência,

O trabalho ensinou para nos ser exemplo,

Colega! — seja a escola o mais sagrado templo,

Onde o espírito nosso em tépido agasalho,

Ganhe, à luz do saber, — a glória do trabalho!

(Apertam-se, efusivamente, as mãos.)

 

A esmola

Uma velhinha

Mui pobrezinha,

Quando eu passava,

Junto da escola

Pedindo esmola,

Sempre encontrava.

Eu nada tinha

Que à pobrezinha

Pudesse dar,

E, quando a via,

Só lhe sorria,

Sem lhe falar.

Mas, cogitava...

Mas, desejava

Dar-lhe um presente,

Que lhe agradasse,

E que a tornasse

Leda, contente!

Todo bordado,

(Mui delicado!)

Um avental,

Com gosto e jeito,

Eu tinha feito

Pelo Natal!

Como regalo

À velha dá-lo,

Logo cismei:

Era Natal...

O avental

lhe destinei!

Mas, no bolsinho,

Escondidinho,

Pus — um mil réis;

Daquela prata

Sonora e grata

Que conheceis.

Depois, dobrado,

Com fita atado,

Num papel fino,

Qualquer dissera

Que ele viera

Do Deus-Menino.

Quando à velhinha,

Tão pobrezinha,

Ofereci

Essa teteia,

Ela receia...

Depois, sorri!

Lá, no boisinho

Escondidinho,

O meu segredo,

A pobre o sente,

Toca-o, fremente,

Co’o fraco dedo!

E seu semblante

Vi, radiante

Dum gozo santo!

— A esmola dada,

Dissimulada,

Tem mais encanto!

 

O professor

Quando eu tinha cinco anos

Da escola nada gostava;

Como a verdugos tiranos

Os professores olhava.

Tinha medo, quando via

Aquele homem sisudo,

Que às aulas presidia

Nas longas horas do estudo.

Mas agora já compreendo

O que seja um professor:

É como um pai — estou vendo,

Do nosso afeto credor!

Si papai dá-nos o pão

Para podermos viver,

O mestre nos dá lição

Para termos o saber.

O saber é a ciência

De tudo por Deus criado;

É luz à nossa existência!'

É um tesouro estimado!

Amemos, pois, amiguinhos,

O nosso bom professor,

Como amam os passarinhos

O sol que lhes dá calor!

Como ama a mansa ovelha

Ao bom pastor que a conduz

À pura fonte que espelha

— O Céu, as flores, a luz!

 

A criança e a borboleta

Descambava sol d'estio

Junto a um rio,

Brincava criança linda

perseguindo irrequieta

Borboleta

Que seus volteios não finda.

Pousava agora a falena

Na açucena

Que sobre a margem balança;

Mas logo foge, voando,

Malogrando

Os esforços da criança.

A gentil perseguidora

Quasi chora,

Já cansada de correr;

E a perseguida mimosa

Deixa a rosa,

Vai do lírio o mel beber.

Agora para a criança

Que descansa,

Entre as flores se assentando;

Baixa o voo a borboleta,

Na violeta,

Juntinho dela pousando.

Ofegante, sorridente

De contente,

A criança estende a mão:

Quer prender a borboleta

Irrequieta,

Quer prendê-la, mas... em vão!

Foge ainda a flor alada,

Mas, coitada!

Vê nas águas outra flor;

Voa, pousa à tona d'água...

Oh! que mágoa!.

Oh! meu Deus, que fundo horror!

A criança tudo vira,

Não sorrira,

Não sorriu, que teve dó,

Que a borboleta querida

Perde a vida,

Nas águas lutando — só.

E num impulso animoso,

Generoso,

Lança-se ao rio também,

E junto da borboleta

— Já quieta —

Prendeu-a... prendeu-a bem!

Alva roupa tremulante,

Flutuante

Como a flor do nenúfar,

Ou como uma ave brincando,

Mergulhando,

Começava a se afundar...

Foi acaso ou Providência

Que a inocência

Tão generosa, salvou?...

Quem, nesse instante cruel,

— Um batel

À correnteza soltou?!

Presto, presto o bateleiro

Mui ligeiro

Às águas também se lança;

Foi — acaso, ou Providência

Que a inocência

Protegeu duma criança?...

Na margem — agora aquecida,

Volta à vida

A criança generosa:

Tem na mão fechada,

Bem guardada

A borboleta mimosa!

 

As frutas

(A aluna deve trazer uma cestinha com frutas)

Quem, me quiser agradar,

Dê-me uma fruta madura;

Todas têm tanta doçura,

Que hei-de qualquer aceitar.

Admiro o belo fruto

Que a terra nos oferece:

Como brota! Como cresce

O delicado produto!

A laranja, por exemplo:

Primeiro — nevada flor;

Depois, este encantador

Fruto d’ouro que contemplo!

E todas, todas assim;

São todas mimosas flores,

Que nestes belos primores

Se transformaram por fim!

A paternal Providência,

Criando as aves mimosas,

Dá-lhes frutas saborosas,

E assim lhes nutre a existência!

Oh! com as aves em coro,

Bendigamos o Criador,

Que em fruto mudando a flor,

Nos abre imenso tesouro!

 

O café

De níveas estrelas

Grinaldas mui belas;

Vi, no cafeial;

Depois, que surpresa!

Toda essa beleza

Mudada em coral!

As flores de neve

Que a brisa de leve

Passando beijou,

Em frutos corados,

Gentis, delicados

O tempo mudou!

E o fruto mimoso,

Gentil, gracioso,

Depois transformado

No puro café,

À mesa se vê,

Por todos gabado!

Café precioso,

Café saboroso,

Eu venho saudar-te!

Café brasileiro,

Tão rico — o primeiro,

És, em toda parte!

Os feriados

Amo os dias feriados,

Às glórias nacionais

Todos, todos consagrados.

Quando escuto o pátrio hino

Cujas notas festivais

Têm um encanto divino,

Sinto no peito, fagueiro,

De santo orgulho vibrar

Meu coração brasileiro!

Todas, de branco trajadas,

Por sobre o peito, a brilhar

Da Pátria as cores amadas.

Vamos, colegas ditosas,

Saudar o Brasil querido.

Nessas vozes jubilosas,

Que os ecos além vibrando,

Lavarão, num brado unido,

Por todo o mundo soando!

— Salve, ó Pátria brasileira!

Oh! Terra dos meus amores!

— Desfralda altiva a bandeira

Sobre o teu solo de flores!

 

O aniversário de mamãe

(A aluna traz um ramalhete)

Mamãezinha, trago flores

Para teus anos brindar:

No jardim dos meus amores

Nada melhor pude achar!

Havia lá borboletas,

E beija-flores dourados;

Mas tinham asas inquietas,

E fugiram para os prados!

Vi uma grande colmeia:

Quisera um favo de mel;

Mas, de abelhas toda cheia...

E abelha que é tão cruel!...

Nada! Nada! quero flores!

Não levarei borboletas,

Que, melhor, os meus amores,

Exprimem estas violetas!

Em vez dum favo de mel,

— O beijo de amor filial,

Duns lábios que não têm fel,

Duma alma pura e leal,

Aceita, mamãe querida!

Aceita-o, com as flores puras:

— Que eles encham tua vida

Das mais risonhas venturas!

 

Meus dez anos

Neste dia jubiloso,

aniversário ditoso

do meu risonho natal,

parabéns e abraços quero,

lindos presentes espero

dos amigos, em geral!

Dez anos eu conto, apenas!

— É um bouquet d'açucenas

abertas à luz d'aurora!

É um sonho cor de rosa,

é a esperança mimosa

de uma vida que s'enflora!

Infância! — barquinha leve

que anjo d'asas cor de neve

por mar de flores conduz!

Infância! — estrela que brilha

do Céu ri azul escumilha

sob o olhar de Jesus!

Dez anos eu conto apenas!

— É um buquê d'açucenas

abertas à luz d'aurora!

E' um sonho cor de rosa,

é a esperança mimosa

duma vida que s'enflora!

 

Ave-Maria

(Com acompanhamento a piano)

O sol desmaia...

Finda-se o dia;

o sino toca:

— Ave-Maria!

Perfumam flores,

Como à porfia,

A doce hora

D'Ave-Maria!

Dos passarinhos

Na melodia,

Parece ouvir-se

— Ave-Maria!

Também minh’alma,

Nessa harmonia,

Diz docemente:

— Ave-Maria!

 

O meu papagaio

Ao sopro do vento sul,

Soltei o meu papagaio,

Que subiu ao Céu azul

Logo do primeiro ensaio.

Feito de papel dourado,

É mais lindo, mais garrido

Que o papagaio estimado

De verdes penas vestido.

— Papagaio de papel —

Eu posso tê-lo na mão.

Que bico não tem cruel.

Para vir ferir-me... não!

Oh! sobe, meu papagaio,

Sobe, além da verde serra:

Vai ao sol pedir um raio

Para dourar minha terra!

 

As quatro estações

I — A Primavera

A Primavera leda, mimosa,

É a criança:

Olhos celestes, faces de rosa,

Toda risonha, toda esperança,

Mais inocente, mais graciosa

Que a delicada pombinha mansa.

Quando ela chega, traz novas flores

No seu sorriso;

Traz doçuras, traz os primores,

Traz os encantos do Paraíso!

 

II — O Estio

Vem o Estio: morrem as flores

Ao sol ardente;

Murcham os tenros, lindos verdores,

E dos ribeiros seca a corrente.

Os passarinhos, a tais rigores

Buscam a mata densa, frondente;

As próprias feras enlanguescidas,

Lá na floresta

Buscam as negras, fundas guaridas

Temendo a calma que tudo cresta!

 

III — O Outono

Chega o Outono: de frutos quantos

Vem carregado!

Ficam as matas cheias d'encantos,

Com mais ternura, com mais cuidado,

Os passarinhos ensaiam cantos.

Lá nos retiros do bosque amado,

Corre o regato por entre a grama

De nova cor;

Enchem as almas, a pura chama,

Os ternos votos dum santo amor!

 

IV — O Inverno

Eis o Inverno: como é tristonho

Com os gelos seus!

Branco sudário frio, medonho,

Evolve a terra, envolve os Céus!

Como entristeço se os olhos ponho

Nesses funéreos, gelados véus!

O frio Inverno é como a morte

Que tudo gela:

Cai a geada, o vento forte,

Morre a florinha mimosa e bela!

 

Canções

No rosal do meu vergel

Fez seu ninho o beija-flor;

— Os lírios davam-lhe mel,

— As rosas davam-lhe — amor.

Quando aurora despertava

No seu bercinho dourado,

E as lindas rosas tirava

Ao cabelo desatado:

No brando ninho mimoso

Acordava o beija-flor,

Que bebia o mel gostoso,

E dava o beijo de amor!

Abriam botões de rosa,

Como lábios de criança;

Na verde planta mimosa

Abriam lírios d'esperança.

E dentro do ninho brando,

Por sobre flocos de paina

Pousava de quando em quando

Terno amor em doce faina.

No coração pequenino

Da maternal avezita,

Também o afeto divino,

— O amor materno — palpita!

Que lá, quais gêmeos botões

Das flores dos laranjais,

Guardavam dois corações

Os dois ovinhos iguais!

Um dia, aurora sorrio:

A Primavera chegara;

O sol mil flores abriu,

O sol que o ninho beijara...

Depois... Que ternos pipilos

Do ninho sobem aos Céus!

As auras que vem de ouvi-los,

Já os elevam até Deus!

É o hino da Inocência,

A homenagem do Amor,

Bendizendo a Providência,

Exalçando o Credor!

 

Menino bem educado

Menino bem educado

É aquele que a seus pais

Obedece com agrado,

Ama-os sempre mais e mais.

Quando desperta, em seu leito,

Logo aos Céus a alma eleva,

E bendiz do imo peito

O Deus que em luz muda a treva!

O rosto banha, o cabelo

Vai, sem vaidade, alisar;

Veste o seu fato singelo,

E depois, sem mais tardar.

Vai logo aos pais estimados

A doce bênção pedir;

A todos, mesmo aos criados,

Dá o — bom dia, — a sorrir.

À mesa, nunca tem pressa;

Sentado, tem compostura,

Nunca mastiga depressa,

Nada gaba, nem censura.

Não se mete nas conversas

Quando às visitas assiste.

E nestas coisas diversas

A educação consiste.

Menino bem educado,

É um modelo precioso:

É por todos estimado,

E sempre será ditoso.

 

Férias!

(Canto)

Das férias eis o tempo venturoso,

O mais doce prazer da nossa vida!

O passarinho canta descuidoso,

Vamos também deixar a nossa lida!

Vamos contentes, em manhãs formosas,

Voar pelos jardins com as borboletas!

As flores nos darão lições preciosas,

Enquanto os livros ficam nas gavetas.

Brinquemos! — no jardim não há perigos!

Folguemos! — o folgar é proveitoso!

Livros, penas, papel... oh! bons amigos,

Ide também gozar vosso repouso!

Destas festas tão gratas e queridas,

No folgar, novo alento beberemos;

E como o passarinho, às novas lidas,

Mais fortes, mais contentes voltaremos!

Terceira parte

 

 

Panteão catarinense

Guerreiros

I - Anita Garibaldi

A Pátria ergue-te um sólio, ergue-te um canto!

Heroína imortal, mulher sublime!

Aureola-te a fronte um brilho santo,

Que — Virtude e Valor — somente, exprime!

Salve! — guerreira intrépida, famosa!

— Filha gentil do sul catarinense,

Cujo valor, na luta sanguinosa,

Anima, assombra, e, subjugando, — vence!

II - Fernando Machado

Herói do Itororó! — teu nome inesquecido,

Da Pátria a fulgurar no grande coração,

Recorda teu valor ao mundo embevecido

Aponta o exemplo teu à nova geração!

 

Poetas

I - Luiz Delfino

Poeta! — o valor teu a Fama além propala;

A Pátria te saúda, a Glória te coroa!

Em torno ao berço teu que o mar sereno embala,

Teu nome a onda diz, a brisa um canto entoa!

II - Cruz e Sousa

Espírito sublime! — o invólucro mortal

Que à Glória te escondia, a humilhar-te, ingrato,

Esvaeceu-se, e à luz dum brilho infindo e grato,

A Pátria pôde ver o filho genial.

III - Marcelino Dutra

Já vai longínquo o tempo em que, gloriosa,

Tua lira inspirada deleitou;

Mas a terra natal, mãe extremosa,

Jamais esquece o filho que a ilustrou!

IV - Bernardino Varela

Pujante inteligência que jorrava

Em dulcíssima luz, abrindo flores;

Teu brilho genial que deslumbrava,

Inda ilumina os novos pensadores!

V - Juvêncio Costa

Tão cedo adormecido!... Jovem poeta,

Como outros que a morte arrebatou,

Dele a grata memória nos ficou

Como doce perfume de violeta.

VI - Antero dos Reis

Ainda há pouco a fronte sonhadora,

Sulcada pelo tempo e pelas dores

No leito da indigência esmagadora,

Ele pendeu pra sempre, entre amargores!

 

Oradores sacros

I - Arcipreste Paiva

Vibrante do fulgor de esplêndida Oratória,

Da sagrada Tribuna, em brilhos derramado,

Fluía o verbo teu: — o verbo sublimado,

Que o povo ainda conserva, e guarda na memória!

II - Cônego Cunha

Salve, — catarinense ilustre! — A eloquência,

De flores coroou-te a fronte iluminada;

Inda a terra natal, saudosa, desolada,

Lamenta, imersa em dor, a tua eterna ausência!

 

Estadistas

I - Conselheiro Mafra

Pungido de saudade o coração magoado,

Tua terra natal ainda te deplora,

E, triste, pranteando o filho dedicado,

O grande defensor dos seus direitos — chora!

II - Conselheiro Silveira de Souza

Com tino, inteligência, e honradez severa,

Cumpriste o teu dever, ilustre cidadão;

A Pátria, o nome teu puríssimo venera,

E da terra natal vives no coração!

 

Jornalistas

I - Jerônimo Coelho

Ilustre conterrâneo! o nome teu saudoso,

No Templo da Memória, envolto em luz intensa,

Ensina do progresso o norte venturoso

À terra onde acendeste o teu farol: — a Imprensa!

II - Duarte Schutel

D escansa, lutador! — tu que, na vida,

U ma senda d'espinhos, mal florida,

A percorrer tiveste, em dura sorte,

R osas de luz celeste, peregrina,

T erás, decerto, na Mansão divina,

E ntre os eleitos de ideal corte!

 

Heróis navais

I - Álvaro de Carvalho

Quando a brasília esquadra triunfava

Sobre as águas, na luta embravecida,

Da Pátria sobre o altar sacrificava

O bravo herói a generosa vida!

II - Tenente Silveira

Bravo! — do Riachuelo sobre as fundas águas,

O paraguaio audaz, altivo recebeste;

E da morte na dor, e num pungir de mágoas,

Inda a Pátria a saudar — como um herói morreste!

 

Construtor naval

I - Trajano de Carvalho

De Trajano Carvalho a fama imperecível,

Em Terras do Brasil não teve inda rival!

Vamos: — da Glória excelsa a palma imarcescível

Sobre a campa depor do — Construtor naval!

 

Pintor

I - Victor Meireles

Victor Meireles! — Salve! — artista sublimado,

Que do Brasil saudaste o grão descobrimento,

Na tela retratando-o altivo, iluminado

Como um nascer de sol, esplêndido, opulento!

 

Músico

I - João Coutinho

Inda repete a brisa suspirosa

A música sublime, genial,

Com que saudaste a Pátria gloriosa

No — hino — teu, brilhante, magistral!

 

Exemplo de piedade

I - Irmão Joaquim

Herói de caridade! — o teu sublime exemplo,

Como gérmen do Bem, na terra derramado,

Desabrochou-se em flor, abrindo um santo templo,

Ao pobre, ao infeliz faminto, abandonado!