https://literaturabrasileira.ufsc.br/_images/obras/fd028.jpg

Title: Um campo no fundo do mar

Writer: Stanislao Nievo

Translators: Valentina Drago, Francisco Degani

Information about the work

  • Classification: Romance ou novela; Tradução
  • Publisher: Nova Alexandria, São Paulo, SP
  • Publication year: 2013
  • Languages: Português
  • Original title: Il prato in fondo al mare
  • Complete translation of the work(s)
  • Language(s) of the translated work: Italiano
  • Medium: Impresso
  • Edition: 1
  • ISBN: 9788574923772
  • Number of pages: 167
  • Dimension: 14x21 cm

Source(s)

  • Projeto Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida

Fierce

Um campo no fundo do mar: uma aventura tradutória a quatro mãos.


Por Valentina Drago

Novembro/2024


           

⠀⠀⠀Traduzir Il prato in fondo al mare de Stanislao Nievo foi uma ideia que surgiu enquanto estava pesquisando sobre o antepassado do autor, Ippolito, autor de um romance representativo do século XIX e seus anseios na criação de uma identidade nacional: As confissões de um italiano.


⠀⠀⠀Um campo no fundo do mar é uma obra “estranha”: mistura o relato aventuroso com a pesquisa em antigos arquivos, a reflexão psicológica com o mistério nunca resolvido do sumiço de um navio que naufragou.


⠀⠀⠀O autor começa contando a história de Ercole (Hércules), um dos primeiros barcos a vapor no Mediterrâneo, que zarpou do porto de Palermo, na Sicília, em 4 de março de 1861, em direção a Nápoles. Passaram-se algumas horas de navegação normal e, chegando em frente à Costa Amalfitana, afundou sem deixar supérstites ou rastros.


⠀⠀⠀Até aqui, poderia parecer uma história de azar marítimo como tantas outras, mas não é: pois a bordo do Ercole estava Ippolito que, na época, tinha vinte e nove anos, e era um dos “camisas vermelhas” que lutaram ao lado do Giuseppe Garibaldi no início do processo de Unificação da Itália (a “Expedição dos Mil”).


⠀⠀⠀Talvez Ippolito tivesse consigo alguns documentos importantes, além do dinheiro que estava financiando a Expedição, ao ponto que se pode suspeitar de uma sabotagem ou de uma bomba a bordo do navio.


⠀⠀⠀Ou talvez uma mudança de corrente e vento repentinos levou o Ercole para “o campo fundo do mar”?


⠀⠀⠀Stanislao Nievo conta que, em 5 de março de 1961, cem anos depois do sumiço de Ippolto, “foi ofuscado por um flash, que interpretou como um convite para reabrir as indagações sobre aquela morte misteriosa” [quarta di copertina]. Um campo no fundo do mar é isso: uma tecelagem onde dez anos de vida do autor, entre arquivos, prédios empoeirados, cartas antigas, e um mergulho final a 700 metros nas profundezas do Golfo de Nápoles buscando os destroços do navio, são narrados em um romance “entre-genêros, por representar vários gêneros ao mesmo tempo ou em momentos diferentes do texto” [Lucia Wataghin, orelha da capa].


⠀⠀⠀Essa dimensão da viagem se encaixa de forma perfeita com a vida do Stanislao Nievo, nascido em Milão em 1928 que, antes de escritor, foi fotógrafo, documentarista e viajou por mais de cinquenta países, inclusive a Antártida. Nesta dimensão eclética, foi também tradutor do inglês (Defoe e Kipling, autores ligados à dimensão da aventura) e fundador da WWF na Itália, além dos Parques Literários, interessantíssimo projeto de preservação dos lugares históricos ligados à memória dos maiores escritores italianos e internacionais.


⠀⠀⠀Um campo no fundo do mar ganhou um importante prêmio literário italiano, o Campiello, no ano seguinte à sua publicação (1975), e chegou ao Brasil graças ao apoio financeiro da Fondazione Ippolito e Stanislao Nievo de Roma.


⠀⠀⠀Era o verão de 2012, eu tinha uma mochila nas costas e estava andando num bairro residencial da Cidade Eterna procurando o endereço da Fondazione para conversar com a secretária geral Mariarosa Santiloni sobre esta ideia de traduzir algo do Ippolito Nievo, autor fascinante para mim por causa das Confissões e desse fim misterioso. Não tinha nenhuma experiência como tradutora, apenas esta ideia de levar ao público brasileiro um autor desconhecido, nunca publicado, mas tão interessante para a formação de uma consciência patriótica inexistente na Itália que estava prestes a nascer.


⠀⠀⠀Não sei exatamente os motivos pelos quais convenci a secretária da Fondazione a falar com a senhora Consuelo Nievo (viúva de Stanislao e presidente) a liberar a verba para traduzir a obra: talvez tenha sido a ingenuidade e o brilho nos olhos de uma jovem realmente entusiasta para embarcar numa nova aventura.


⠀⠀⠀Foi a Mariarosa Santiloni quem sugeriu Um campo no fundo do mar, dada a imensa dificuldade técnica de uma tradução – inversa ou menos – de alguma obra de Ippolito Nievo, com seu italiano do século XIX. Aceitei a proposta, li o romance com a maior atenção possível, e comecei a traduzir... Todavia, logo percebi que a tradução inversa é traiçoeira como uma armadilha. Depois de ter terminado o primeiro capítulo, a sintaxe do italiano, minha língua nativa, para o português, parecia não fluir bem o bastante para convencer meu esposo (brasileiro) leitor.


⠀⠀⠀Tornou-se necessário procurar uma parceria de alguém muito mais experiente e, neste momento, pensei em Francisco Degani, com sua paixão pela literatura italiana, já tradutor de uma obra “sagrada” na Itália como Os Noivos de Alessandro Manzoni. Entramos em contato, e – novamente de forma inesperada – ele se juntou a este projeto.


⠀⠀⠀Francisco corrigiu vários “escorregões” meus. Lembro-me de um divertido: cavalla – égua – que eu tinha traduzido como ‘cavala’, até que ele viu e comentou “a ‘cavala’ é um peixe em português, mas apenas trocou o animal, fique tranquila!”). Ele foi fundamental para esta aventura a quatro mãos, não apenas corrigindo mas me ajudando a entender o ritmo das frases, a pontuação diferente entre os dois idiomas, escolhendo quando realmente era preciso uma nota de rodapé para ajudar o leitor a entrar numa dimensão (a história italiana durante a unificação, o chamado “Risorgimento”) normalmente desconhecida.


⠀⠀⠀Nossa discussão mais importante foi sobre o título da obra: Il prato in fondo al mare. ‘Prato’ em italiano seria ‘gramado’ em português, e a palavra contém a ideia de uma superfície verde, com muita grama, regular e quase lisa. Mal combinava com a descrição do abismo ao largo de Nápoles que Stanislao descreve durante o último capítulo, quando conta a reveladora descida de submergível até o suposto resto do navio Ercole. Um lugar vazio, silencioso, com formações rochosas parecidas com cogumelos, e animais marinhos estranhos. Optamos pelo campo por este motivo, e também respeitando o título curto original (um setenário, em italiano).


⠀⠀⠀Também, mudamos o artigo ‘il’, definido em italiano (seria o) pelo indefinido ‘um’ do português, para sugerir uma sensação mais vaga, de um lugar desconhecido.


⠀⠀⠀Na primeira página da edição brasileira, impressa pela Editora Nova Alexandria de São Paulo em 2013, decidimos que ia ser reproduzido um mapa do Sul da Itália com a provável rota do Ercole, ampliando a parte da Costa Amalfitana entre Punta Campanella (com a ilha de Capri em frente) e Punta Licosa, para os leitores brasileiros terem uma boa noção dos lugares descritos pelo autor.


⠀⠀⠀A tradução ganhou um importante prefácio de quatro páginas da professora Lucia Wataghin (da USP), à qual pedimos que desse várias pinceladas sobre o contexto histórico narrado e uma opinião sobre a obra.


⠀⠀⠀Enfim, a capa com os destroços de um navio afundado, com grandes correntes incrustadas pela vida marinha, queria chamar a atenção de um público atraído por mistério e aventura.


⠀⠀⠀A primeira tiragem foi de 1000 exemplares, dos quais alguns voltaram para a Fondazione Nievo, para a satisfação de Mariarosa Santiloni que, por sorte, acreditou na ideia inicial que se tornou uma tradução a quatro mãos.





Reference

NIEVO, Stanislao. Um campo no fundo do mar. Translation from Valentina Drago; Francisco Degani. 1. ed. São Paulo, SP: Nova Alexandria, 2013. ISBN: 9788574923772.


Comments