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Title: Vidas dos artistas

Writer: Giorgio Vasari

Translator: Ivone Benedetti

Organizators: Luciano Bellosi, Aldo Rossi

Information about the work

Source(s)

  • Projeto Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida

Fierce

Vidas dos artistas - Giorgio Vasari

Por Ivone Benedetti

Outubro/2024



Sobre a obra.

⠀⠀⠀No século XVI foram publicadas duas edições das Vite: a torrentina (do nome do editor Lorenzo Torrentino), em 1550, e a giuntina (dos editores Giunti), em 1568. A tradução de que trata este verbete teve como texto original a publicação da Einaudi (2011), baseada na edição torrentina de 1550. Da equipe organizadora dessa obra participaram Aldo Rossi, Marina Gorreri e Antonia Ravasi (na revisão do texto italiano), Luciano Bellosi (na coordenação das notas redigidas por Giovanna Ragionieri, Andrea de Marchi, Francesca Fumi e Fabrizio Guidi), com cronologia de Andrea De Marchi. A apresentação é de Giovanni Previtali. A obra também conta com uma nota bibliográfica e uma cronologia detalhada da vida do autor. O texto de Giorgio Vasari é introduzido por uma dedicatória ao “Ilustríssimo e excelentíssimo senhor Cosimo de’ Medici, Duque de Florença” e apresenta duas grandes divisões. Na primeira, Vasari expõe concepções, teorias e visões sobre arquitetura, escultura e pintura. A segunda divisão é dedicada às “vidas” propriamente ditas e se compõe de três grandes partes, cada uma das quais introduzida por um proêmio. A primeira vai de Cimabue a Lorenzo di Bicci; a segunda, de Jacopo della Quercia a Pietro Perugino; a terceira, de Leonardo da Vinci a Michelangelo Buonarroti (este, ainda vivo quando da publicação da edição torrentina).


⠀⠀⠀Por que a edição torrentina e não a giuntina? Na sua apresentação, Previtali explica: “Na passagem da edição torrentina para a giuntina, de fato, Vasari acrescentou, integrou, corrigiu e normatizou muito, mas também empanou e banalizou”. É de reconhecimento geral a maior qualidade artística da edição torrentina e, diante disso, parece paradoxal a Previtali o fato de a edição giuntina ter dezoito edições italianas e oito traduções estrangeiras […] ante uma única reprodução diplomática da edição princeps!” (p. XII). Trata-se, portanto, de reconhecer e divulgar os méritos de uma obra que pareceu, injustamente, ter sido superada por um texto posterior. O excelente trabalho dos organizadores esclareceu, sempre que cabível, as mudanças introduzidas por Vasari na edição de 1568.

⠀⠀⠀Por outro lado, continua Previtali, “Vasari, em vez de se entrincheirar por trás de uma objetividade neutra, reivindica o direito de julgar a partir do seu próprio ponto de vista, segundo sua própria escala de valores. Que esse ponto de vista e essa escala de valores já não podem ser nossos é óbvio; mas isso não quer dizer que hoje podemos prescindir do testemunho e dos juízos de Vasari.” (p. XII) E, de fato, a publicação por ele apresentada enriqueceu o texto vasariano com notas imprescindíveis para contextualizar informações históricas, corrigir imprecisões, atualizar situações geográficas, esclarecer o texto etc.

⠀⠀⠀Sobre as concepções de Vasari, abundantemente expostas ao longo da obra, a que mais ressalta é a certeza de que a arte de sua época havia atingido o grau máximo de perfeição, sob os céus de Florença. A respeito, vale a pena citar os seguintes trechos. O primeiro, da dedicatória a Cosimo de’ Medici: “acredito que só lhe poderá ser grato este trabalho por mim realizado de descrever vidas, obras, estilos e condições de todos aqueles que primeiramente revivificaram as artes quando elas já estavam extintas, para depois, a cada momento, exaltá-las e orná-las, e, finalmente, conduzi-las ao grau de beleza e majestade em que se encontram hoje em dia” (p. 3). E sobre aquilo que depois passou a ser chamado de gótico: “Há outra espécie de trabalho, que se chama alemão, constituído por ornamentos e proporções muito diferentes dos antigos e dos modernos; hoje não é usado pelos melhores artistas, que dele fugiram por achá-lo monstruoso e bárbaro, esquecendo de todas as suas ordens, que mais caberia chamar de confusão ou desordem; [...] E nessas obras faziam-se tantos ressaltos, cortes, mísulas e gavinhas, que elas se tornavam desproporcionais e, frequentemente, pondo-se coisa sobre coisa, chegava-se a tamanha altura, que a extremidade de uma porta tocava o teto. Essa maneira era invenção dos godos, que destruíram todas as construções antigas e mataram os arquitetos nas guerras, de tal maneira que os sobreviventes depois criaram construções desse tipo, fazendo abóbadas em quatro arcos agudos e enchendo toda a Itália com essa maldição de construção [...] (p. 25-26).

Sobre o autor.

⠀⠀⠀Pintor, arquiteto, escritor, Giorgio Vasari nasceu em Arezzo em 1511 e morreu em Florença em 1574. Aprendeu desenho com Guglielmo de Marcillat, pintor de vidro; enviado a Florença com treze anos, passa a estudar com Michelangelo; quando este é chamado a Roma, Vasari transfere-se para Andrea del Sarto e Baccio Bandinelli. Quando os Medici são expulsos de Florença em 1527, ele regressa a Arezzo, mas depois foge de lá, para evitar a peste. Retorna a Florença em 1529, onde continua sua formação artística. Em 1531 Ippolito de' Medici convida-o a entrar a seu serviço: Vasari aceita e acompanha o cardeal a Roma, onde, juntamente com o amigo Salviati, começa a inspirar-se em Michelangelo, Rafael, Polidoro, Peruzzi: é um período intenso de estudos, que o põe em contato com o maneirismo romano. Retornando a Florença, participa ativamente das decorações preparadas para a entrada de Carlos V (1536). Em 1537 pinta Nossa Senhora com o Menino Jesus e os Santos para a igreja de Camaldoli, além de outros painéis e afrescos nos três anos seguintes. Em 1538 volta a Roma para estudar arquitetura e escultura. No ano seguinte vai para Bolonha, encarregado das pinturas do convento de S. Michele in Bosco; em 1541 encontra-se em Veneza, onde realiza uma Vênus e uma Leda, baseadas em desenhos de Michelangelo: depois decora o teto do palácio de Giovanni Cornaro. Em 1542 deixa Veneza e volta para Arezzo, onde inicia os afrescos de sua casa, que estão entre as melhores coisas que pintou. Em 1543 está em Roma, e Michelangelo, por quem sentia profunda admiração, aconselha-o a dedicar-se apenas à arquitetura. Depois de uma sucessão ininterrupta de estadas em Roma e Florença, em 1545 vai a Nápoles e executa o painel do altar-mor da igreja de Monteoliveto, a Purificação de Maria, hoje na galeria de arte daquela cidade. Regressando a Roma no ano seguinte, é aconselhado pelo cardeal Farnese, por Paolo Giovio e por outros literatos a escrever as Vidas dos artistas, algo com que há muito sonhava; depois, indo para Florença, antes do final do ano, pinta uma Santa Ceia para as freiras do convento Le Murate, hoje no museu de Santa Croce. Em 1548, assume a tarefa de realizar obras na Badia di Classe e na igreja de São Francisco em Rimini; no mesmo ano vai a Ravenna, Arezzo e Monte San Savino: em todos os lugares deixou obras de pintura. No início de 1549 instala-se em Florença, onde pinta o Martírio de São Sigismundo, concluído em 1550, para a capela Martelli da Basílica de São Lourenço. Em março desse ano é publicada, na gráfica de Torrentino, a primeira edição das Vidas. Quando Júlio III assume o trono papal, Vasari vai a Roma oferecer seus serviços. A primeira encomenda que recebe é do Túmulo do Cardeal Dal Monte, tio do papa, na igreja de São Pedro em Montorio. No início de 1553, depois de viver entre Florença e Arezzo, volta a Roma, onde trabalha na "Vinha do Papa Júlio". No final de 1554, fixa residência em Florença, trabalhando "oficialmente" para o duque Cosme I, que lhe confia a ampliação do Palazzo Vecchio e sua decoração pictórica com cenas alegóricas e históricas. Em 1560 inicia a construção da Galeria degli Uffizi, edifício destinado ao poder judiciário, sua obra-prima arquitetônica. Em 1564, projeta o túmulo de Michelangelo em Santa Croce. Em 1565, começa o corredor que, atravessando o Arno, liga o Palazzo Pitti ao Palazzo Vecchio. Nesse mesmo ano, entre outros trabalhos, decora a abóbada do Grande Salão do Palazzo Vecchio com alegorias. Em 1566 realiza uma viagem de estudos pela Itália com o objetivo de recolher novo material para a 2ª edição das Vidas, publicada em 1568. Em 1570, volta a Roma, atendendo a chamado de Pio V para pintar a capela de São Pedro Mártir, de Santo Estêvão e a dos anjos rebeldes no Vaticano. Em 1572 interrompe a decoração da Sala Régia do Vaticano para regressar a Florença, onde inicia os afrescos da cúpula de Santa Maria del Fiore. Depois retorna a Roma, onde retoma os trabalhos na Sala Régia, que o novo pontífice, Gregório XIII, quer ver concluídos o mais depressa possível. Voltando a Florença em 1574, assume a decoração da cúpula da catedral, da qual executou apenas a coroa dos Profetas e Anciãos, ao redor do olho da lanterna: a obra foi concluída em 1579 por Federico Zuccari.

Sobre a tradução.

⠀⠀⠀Quando se trabalha com um texto escrito num estado remoto da língua, é preciso fazer escolhas nem sempre fáceis. Nesse texto, em especial, além da peculiaridade linguística, há também várias questões terminológicas que precisaram ser resolvidas na tradução, não obstante o grande número de notas esclarecedoras da edição que serviu de original. Do ponto de vista linguístico, é sempre preciso estabelecer uma linha divisória entre o que não desvirtua um estilo e o que não constitui um obstáculo à compreensão do leitor; num extremo, o decalque, no outro, a paráfrase. Não permitir que o leitor se canse de um texto acidentado, cheio de construções pouco usuais nos dias de hoje, mas também permitir que ele perceba um estilo, uma cultura, uma personalidade, uma época.

⠀⠀⠀Do ponto de vista terminológico, foi preciso resolver nomes de ferramentas que já não existem e não se sabe se alguma vez existiram no universo lusófono, bem como entender a descrição de técnicas arquitetônicas (como, por exemplo, o modo como foi edificada a cúpula da Catedral de Florença), encontrar equivalente para a unidade usada nas dimensões das colunas (por ele denominadas teste, ou seja, cabeças), coisas que exigiram demoradas pesquisas até a descoberta de obras esgotadas que davam pistas ou, muitas vezes, ótimos esclarecimentos sobre essas dificuldades.

⠀⠀⠀Tudo isso torna essa obra inestimável na biblioteca de qualquer estudioso de arte.



Reference

VASARI, Giorgio. Vidas dos artistas. BELLOSI, Luciano; ROSSI, Aldo (org). Translation from Ivone Benedetti. 1. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2011.


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