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Title: Léxico familiar

Writer: Natalia Ginzburg

Translator: Homero Freitas de Andrade

Dados sobre a tradução

  • Type: Obra Literária
  • Classification: Romance ou novela; Tradução
  • Publication year: 2018
  • Publisher: Companhia das Letras, São Paulo, SP
  • Languages: Português
  • Medium: Impresso
  • ISBN: 9788535929874
  • Number of pages: 256
  • Dimension: 14x21 cm

Dados do(s) original(ais)

  • Original title: Lessico famigliare
  • Complete translation of the work(s)
  • Language(s) of the translated work: Italiano

Source(s)

  • Projeto Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida

Fierce

Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg

Por Jéssica Helena Trombini

setembro/2025


           

⠀⠀⠀Considerada a obra-prima de Natalia Ginzburg (1916-1991) e uma das mais importantes produções literárias do pós-guerra, Lessico famigliare, publicado em 1963, pela editora Einaudi, é um livro de memórias que conta a história da família Levi e também da própria Itália entre os anos 1920-1940. Em uma entrevista concedida à RAI em 1964, a autora afirma que não considera o livro autobiográfico, já que não fala sobre sua vida, mas sim sobre a vida das pessoas no seu entorno. Ela mesma se coloca pouco na narrativa e diz não ser um personagem, mas apenas uma testemunha, e por isso o seu eu permanece nas sombras.

⠀⠀⠀A narrativa é conduzida pelas percepções dessa autora-narradora desde criança que, com o tempo, se torna adolescente e atinge a idade adulta, a qual observa a ascensão do fascismo, a perseguição política à sua família e amigos, bem como a chegada da II Guerra Mundial. Essa história é contada a partir do espaço da casa, de objetos e de anedotas, frases e expressões que se tornam típicas de cada personagem. Tais detalhes do cotidiano poderiam ser considerados itens de coleção: “Há três elementos primordiais que estabelecem a possibilidade de entender a narrativa como uma forma de colecionar por meio das palavras: a relação com o passado, com a memória e com o afeto” (Fieira, 2024, p. 121).

⠀⠀⠀Apesar do grande prestígio internacional desde seu lançamento em 1963, o romance só ganhou sua primeira tradução no Brasil em 1988, pela Editora Paz e Terra. Já em 1963, a obra foi ganhadora do maior prêmio literário italiano, o Premio Strega, e logo foi traduzida para o francês e o inglês. Na época, jornais brasileiros como O Diário, de Santos, chegaram a noticiar a conquista do prêmio, mas demorou mais de 20 anos para que Lessico Famigliare ganhasse uma versão em português brasileiro. Nesse intervalo, o nome de Natalia Ginzburg apareceu em jornais e revistas por aqui, em artigos e reportagens sobre literatura italiana (MacShane, 1980), além de exibições do filme “Casei contigo por alegria”, baseado em sua peça teatral Ti ho sposato per allegria.

⠀⠀⠀A tradução feita por Homero Freitas de Andrade (1952-2020) faz parte da coleção “Mulheres e Literatura”, iniciada com outro título também de Natalia Ginzburg: Caro Michele, em 1986. Atualmente, Paz e Terra é um selo da Editora Record e, segundo o próprio site: “A editora [Paz e Terra] surgiu na década de 1960 com nome inspirado pela encíclica papal Pacem in Terris. Nascida na resistência democrática, a Paz & Terra estruturou-se em torno da defesa da liberdade de pensamento e do direito ao diálogo”. Não é casual, então, a escolha desta obra para integrar esta coleção.

⠀⠀⠀A primeira tradução de Léxico familiar continua sendo a única, reeditada posteriormente em 2009 pela Cosac Naify, e em 2018 pela Cia. das Letras. Nesta primeira edição, não há prefácio nem comentários do tradutor, o único recurso paratextual utilizado por Homero Freitas de Andrade são notas de rodapé. Ao todo, a edição apresenta treze notas de rodapé, das quais onze são assinadas pelo tradutor, por meio da indicação “N. do T.” O conteúdo de tais notas varia, trazendo, por exemplo, a explicação de itens culturais específicos que o tradutor escolheu deixar em italiano, como “fontina”, item da gastronomia da região do Valle d’Aosta, ou que o leitor brasileiro poderia não compreender, como a expressão “os camisas negras”, em referência aos grupos paramilitares fascistas, além das traduções de expressões em francês, latim e de nomes de jornais e revistas que aparecem ao longo da narrativa. As notas, no entanto, não cobrem todas as expressões estrangeiras e culturais que aparecem no romance.

⠀⠀⠀A capa foi ilustrada por Isabel Carballo, que é responsável por todas as outras capas desta coleção, e apresenta a imagem de uma criança, uma menina, que carrega, amontoados em sua saia, objetos, rostos, fotos e letras, que escapam de seu colo e parecem ganhar vida própria nessas memórias. A criança observa tudo isso com uma expressão de admiração.

⠀⠀⠀Quanto à recepção da tradução, há pouca repercussão que conseguimos mapear em jornais e revistas. A hipótese que nos parece mais provável é a de que, por haver outras traduções de Natalia Ginzburg circulando no Brasil, lançadas antes de Léxico familiar, estas acabaram ofuscando a produção mais importante da autora, já que seu nome não seria mais uma novidade. Antes desta, como dissemos, já havia sido publicado Caro Michele, mas também já havia duas traduções de Tutti i nostri ieri, de 1952: A vida não se importa (1960) e Todas as nossas lembranças (1986). Ainda assim, em 1987, Federico Mengozzi e um artigo no Estado de São Paulo já comenta que a obra estava em processo de tradução.

⠀⠀⠀No âmbito acadêmico, a primeira resenha saiu apenas em 1994, escrita por Vilma Areas, que aponta para a ciranda das frases que dão título ao livro e que marca a passagem do tempo, da dimensão particular e histórica, a partir de um complexo circuito familiar em que os traços do fascismo parecem se congelar num modelo de repetição.


Referências:

A MULHER no tempo: Natalia Ginzburg, Prêmio Strega de 1963. O Diário, Santos, Suplemento Feminino, p. 2, 13 de outubro de 1963. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=890383&pesq=natalia%20ginzburg&hf=memoria.bn.gov.br&pagfis=45700 Acesso em: setembro de 2025.

FIEIRA, Rafaela Cechinel. Escrever a partir do detalhe: uma leitura de Léxico familiar. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2024. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/258646 Acesso em: outubro de 2025.

GINZBURG, Natalia. Il volto di scabra contadina. Entrevista concedida a Edmonda Aldini e Giancarlo Sbragia. Canal Rai, 1964. Disponível em: https://www.teche.rai.it/2016/05/natalia-ginzburg-il-volto-di-scabra-contadina-1964/ Acesso em: setembro de 2025.

GINZBURG, Natália. Léxico familiar. Trad. Homero Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1988. 247p. RESENHA de: AREAS, Vilma. Boletim CESP v.U, n.18, jul. dez. 1994. Disponível em: https://periodicos-des.cecom.ufmg.br/index.php/cesp/article/view/30612/24231. Acesso em: setembro de 2025.

MACSHANE, Frank. A nova literatura da Itália. O Estado de São Paulo, São Paulo, 15 de junho de 1980. Suplemento Literário, ano 1, número 1, pp. 14-15. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=098116x&pesq=natalia%20ginzburg&hf=memoria.bn.gov.br&pagfis=8968. Acesso em: setembro de 2025.

MENGOZZI, Federico. Na recriação da ópera, uma descoberta. O Estado de São Paulo, São Paulo, 24 de maio de 1987. Caderno 2, página 4.

RIBEIRO, Ana Elisa; KARAM, Sérgio. Publicar mulheres: três coleções de escritoras estrangeiras no Brasil (séc. XX e XXI). In: Amoxtli, núm. 2, pp. 47-55. Universidad Finis Terrae: Santiago, 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/6157/615764479004/html/. Acesso em: setembro de 2025.

PAZ E TERRA. Editora Record. [s.d.] Disponível em: https://record.com.br/editoras/paz-terra/ Acesso em: setembro de 2025.

Reference

GINZBURG, Natalia. Léxico familiar. Translation from Homero Freitas de Andrade. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2018.


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