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Title: De Vulgari Eloquentia

Subtitle: Sobre a eloquência em língua vulgar

Writer: Dante Alighieri

Translator: Francisco Calvo Del Olmo

Information about the work

  • Classification: Tradução; Ensaio, estudo, polêmica
  • Publisher: Parábola Editorial, SP
  • Publication year: 2021
  • Languages: Português
  • Original title: De vulgari eloquentia
  • Complete translation of the work(s)
  • Language(s) of the translated work: Italiano; Latim
  • Medium: Impresso
  • Edition: 1
  • ISBN: 9788579342059
  • Number of pages: 256
  • Dimension: 24 X 17 cm

Source(s)

  • Projeto Dicionário Bibliográfico da Literatura Italiana Traduzida

Fierce

De Vulgari Eloquentia ou sobre a eloquência em língua vulgar



Francisco Calvo del Olmo

Maio/2025



⠀⠀⠀De vulgari eloquentia (DVE), que adaptamos com o subtítulo sobre a eloquência em língua vulgar, é um tratado redigido em latim pelo famoso autor da Divina Comédia, Dante Alighieri (Florença 1265-Ravena 1321). A crítica moderna coincide em apontar a sua composição durante os primeiros anos do exílio de Dante, isto é, entre 1303 e 1305, mas a escrita desta obra, que originalmente deveria ter sido desenvolvida em quatro livros ou partes, foi bruscamente interrompida na metade de uma frase no capítulo XIV do segundo livro e, de fato, ficou inacabada. Outro projeto literário deve ter atraído a atenção de Dante, muito provavelmente a composição da Divina Comédia, a qual lhe permitiu pôr em prática a reflexão iniciada em DVE, elevando a língua vernácula — ou vulgar — aos mais altos cumes da poesia.


⠀⠀⠀Para entender a fortuna deste tratado inconcluso — cuja autoria até chegou a ser discutida — é importante nos aproximarmos das circunstâncias dos editores que lhe dedicaram sua atenção ao longo das seguintes centúrias. Assim, os XIX capítulos do primeiro livro e os XIV do segundo permaneceram praticamente fora de circulação após a morte de Dante até que Gian Giorgio Trissino (1478-1550) decidiu traduzi-los do latim para o italiano e publicar DVE pela primeira vez em 1529. Algumas décadas mais tarde, em 1577, Jacopo Corbinelli (1535-1590) publicou em Paris a edição princeps do texto original em latim a partir de um dos manuscritos conservados, concretamente o que está na biblioteca de Grenoble. Durante o século 18, a versão italiana de Trissino foi reimpressa em várias ocasiões, enquanto o texto em latim foi novamente impresso em 1739, editado desta vez pelo erudito de Verona Scipione Maffei (1675-1755). A partir daquele momento, DVE tornou-se uma referência incontornável na discussão sobre a “questione della lingua” e cada intelectual tratou de interpretá-lo de acordo com seu próprio modelo de língua nacional. A difusão do texto culminou, de certo modo, com a edição crítica que o filólogo lombardo Pio Rajna (1847-1930) publicou em 1896 e que serviu de base para as edições e traduções que viram a luz ao longo do século 20. A presente tradução para o português inscreve-se nessa tradição e se coloca como objetivo aproximar o texto de DVE ao público brasileiro, sobretudo, às e aos estudantes, pesquisadoras e pesquisadores dos estudos da linguagem.


⠀⠀⠀O escritor italiano Italo Calvino, no seu famoso ensaio póstumo intitulado Por que ler os clássicos (publicado em 1991), afirma que os clássicos nem sempre nos ensinam algo novo, mas, muitas vezes, eles vêm do passado para confirmar nossas ideias do presente, para reafirmar com uma voz distante aquilo que já sabíamos. Podemos rastrear as origens da linguística como ciência moderna na virada do século 18, quando filólogos do âmbito anglo-germânico — como William Jones, Friedrich Schlegel e Franz Bopp e, algo mais tarde, os irmãos Grimm — desenvolveram o método histórico-comparativo. Todavia, o interesse pela linguagem, por estabelecer as origens remotas das línguas e classificar sua variação no espaço e no tempo, ocupou o pensamento de filósofos e gramáticos desde a Antiguidade. Nesse ponto, podemos nos interrogar sobre a pertinência que o tratado inacabado de Dante tem para os estudos da linguagem no século 21. DVE traz uma série de potencialidades tanto na área dos estudos linguísticos, sobretudo no primeiro livro, quanto na dos estudos literários, principalmente no segundo livro, dedicado à métrica e à teoria da incipiente tradição poética das línguas românicas vernáculas, ou vulgares, em contraposição com o latim. Questões que seriam abordadas metodicamente pela linguística do século 20 aparecem nas páginas de DVE, prefiguradas desde a perspectiva do pensamento humanista tardo-medieval. Dante tenta explicar a origem da linguagem e das línguas, a diversidade linguística, a separação e diglossia entre língua escrita (o latim, que ele chama de “gramática”) e língua falada (a língua materna ou vernácula), a dupla articulação do signo linguístico, a variação diacrônica, diatópica (que dará origem à dialetologia) e diastrática (donde surgirá a sociolinguística). Além disso, aborda a padronização e hipóstase de determinadas variedades bem como a inteligibilidade ou intercompreensão entre falantes de variedades próximas. E igualmente disserta sobre os temas e a métrica que articularam a produção lírica do seu tempo e dos séculos posteriores. A abordagem desses assuntos, desde um quadro teórico pautado pela teologia cristã, de raiz platônica, pode ser interessante para pesquisas em filosofia da linguagem. De maneira mais específica, a leitura de DVL é relevante para o estudo das línguas românicas ou neolatinas — das quais o português brasileiro faz parte —, pois, de fato, esta obra é considerada como a precursora, a primeira pedra, da linguística românica.


⠀⠀⠀Considerando todas essas potencialidades, o objetivo que guiou esta tradução foi o de facilitar o acesso, consulta e difusão da obra entre as leitoras brasileiras e os leitores brasileiros mediante uma edição bilingue com texto original a fronte. Ainda que Dante fosse um defensor do vernáculo, preferiu empregar o latim para redigir o seu tratado, fazendo um uso apropriado dessa língua que, não entanto, apresenta características sintáticas, lexicais e ortográficas próprias da arte dictandi medieval. Contudo, o caráter inconcluso de DVE se manifesta na menor elaboração do texto quando comparado com as Epístolas, as cartas que ele mesmo redigiu também em latim. Todas essas particularidades foram consideradas no processo de tradução, sendo necessário consultar dicionários e bibliografia específica do latim medieval. Precisamente, para esclarecer e comentar as especificidades mais marcantes, foi estabelecido um aparato de notas, o qual pode ser consultado por aquelas leitoras (e leitores) interessadas por um estudo aprofundado do texto.


⠀⠀⠀Esta tradução vai introduzida por uma seção intitulada “Primeiras Palavras: Dante Alighieri, o linguista”, assinada pela professora da USP Elisabetta Santoro, que teve a gentileza de apresentar desse modo a obra. Em seguida, há uma ampla introdução, onde o tradutor traça as coordenadas espaciotemporais de DVE e apresenta as várias dimensões do tratado. Após a tradução dos dois livros com o texto original em latim, a edição se encerra com um índice dos autores citados por Dante ao longo dos capítulos da sua obra. Como homem culto e humanista, Dante mobiliza um número expressivo de autores clássicos latinos e cristãos, poetas toscanos, sicilianos, provençais e franceses para ilustrar diversos pontos da sua exposição. Assim, com o objetivo de facilitar a consulta, os nomes destes autores estão marcados em negrito a primeira vez que aparecem dentro do corpo do texto, remitindo ao índice onde é apresentada uma breve nota bibliográfica de cada um deles. Um último elemento paratextual que merece ser resenhado são os desenhos realizados pelo tradutor que ilustram cada capítulo. Esta tradução de De Vulgari Eloquentia: sobre a eloquência em língua vulgar foi publicada em 2021, coincidindo com o aniversário número setecentos da morte de Dante e, por esse motivo, o livro se propõe a ser uma edição comemorativa que celebre a vigência do tratado como referência para os debates atuais dos estudos da linguagem (não por acaso a Editora Parábola publicou a tradução dentro da sua coleção intitulada Referenda). Consequentemente, a tradução para o português brasileiro, a apresentação do texto latino original, as notas e também as ilustrações integram um projeto comum que busca facilitar o acesso do público geral às ideias e reflexões de Dante.


Referências


CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das letras, 2007.

DANTE, Alighieri. De Vulgari Eloquentia: sobre a eloquência em língua vulgar. Trad. Francisco Calvo del Olmo. São Paulo: Parábola, 2021.


Reference

ALIGHIERI, Dante. De Vulgari Eloquentia: Sobre a eloquência em língua vulgar. Translation from Francisco Calvo Del Olmo. 1. ed. SP, Brasil: Parábola Editorial, 2021. ISBN: 9788579342059.


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